
Portela - "Vestido de azul e branco/Eu venho estender o nosso manto/Aos meus santos do samba que são Orixás"
Fantástico! Antológico! Composição gostosa de cantar e já está na boca do povo. Três refrões e versos de inspiração única como: "Eu vim com a proteção dos meus Guias/Com Clara guerreira à Bahia", "Vou no Gongá/Bater tambor/Rezo no altar/Levo o andor" e "Desce a ladeira meu amor/Que a Patuscada começou/Eu vim pra rua/Onde o samba de roda chegou". A escola pode aprender com outro caso recente parecido. Em 2010, a Imperatriz tinha um samba pra história e estava na ingrata posição de segunda escola a desfilar no domingo. A mesma da Portela em 2012. Naquela ocasião a harmonia gresilense decidiu manter uma cadência mais lenta que valorizava ainda mais a bela composição. Não deu certo. Provavelmente por estarem desfilando tão cedo, com a arquibancada ainda fria. Pois então, a escola de Madureira já fez as alterações necessárias na melodia e acelerou levemente o andamento facilitando inclusive o canto dos componentes. Bola dentro. Pode ser que a escola supere essa posição de desfile olhando o passado. E como esse samba remete ao passado. O melhor do passado.
Nota 10.
Vila Isabel - "Somos a pura raiz do Samba/Bate meu peito à sua pulsação"
Se não fosse o samba da Portela esse seria a obra do ano. Covardia né? André Diniz e Arlindo Cruz! A cara da escola. O refrão principal entrega lá em cima "Vai ressoar o canto livre/Nos meus tambores o sonho vive". A primeira parte termina vibrante "Fogo aos olhos que invadem/Pra que é de lá/Forja o orgulho, chama pra lutar!". É fantástico! Mas o ponto alto está na coragem da segunda parte. Não vai ser fácil na avenida, mas o contra-canto nas últimas estrofes é excelente. Encerrar com: "Nesse Cortejo (a herança verdadeira)/A nossa Vila (Agradece com carinho)/Viva o povo de Angola e o negro Rei Martinho" é uma bela homenagem.
Nota 10.
Salgueiro - "Quero chegar ao céu num sonho divinal/É Carnaval! É Carnaval!"
Gosto muito do descompromisso desse samba. Me lembra 2010 quando os compositores tiveram liberdade e não se prenderam tanto a sinopse. O refrão principal é do jeitinho que salgueirense gosta "Danado pra versar na Academia". Falta ousadia, é verdade, mas na segunda parte tem duas variações ótimas. A swingada no trecho: "Ó meu 'Padinho' venha me abençoar/Meu santo é forte desse cão vai me apartar" vai mexer com os componentes e é delicioso de ouvir. A outra variação é no trecho que abre este comentário da escola do Andaraí. Não gosto de três intérpretes oficiais mais veremos mais sobre isso quando analisarmos a Mangueira.
Nota 9.8
Mocidade - "Deixa a estrela guiar/Faz do firmamento, seu eterno lar"
O samba mais poético do ano. E porque? Porque a escola se tratou da arritmia cardíaca que acometeu a Vila Vintém nos últimos dois anos. Graças a Padre Miguel, sem samba-trio elétrico, nem coração disparando de novo... Os refrões são muito bons e as modificações feitas em relação ao que ganhou na quadra foram providenciais. O final da primeira parte é linda: "Solto no céu feito pipa a voar/Quero te ver qual menino feliz/Planta a semente do sonho em verde matiz". Na segunda parte, um show nas citações as obras de Portinari. "Voar pelas asas de um anjo/Num céu de azulejos, pedir proteção", "Você que do morro fez vida real/Pintou nossos lares num lindo mural". É um samba inspirado e com Alexandre Louzada, que é um dos melhores carnavalesco da atualidade, a Estrela Guia tem tudo pra brilhar de novo.
Nota 9.8

O ótimo blog "Ouro de Tolo" define este samba como o melhor da era Paulo Barros na escola.
Discussão interessante.
Não tenho opinião totalmente formada mas vamos pensar sob outro ponto de vista: Como saiu uma bela composição, não estaríamos confundindo melhor samba com "mais normal"? Não fala de alquimia, não fala de monstros, não tem segredo nenhum e ninguém vai levar a alma de ninguém...
É normal.
E muito bom!
Foge um pouco da sinopse pois nada se ouve referente aos reis coroando o "Rei". É mais uma ode a Luis Gonzaga. Nada grave. A segunda parte tem o ponto alto na variação melódica que cita obras do Rei: "Simbora que a noite já vem 'Saudades do meu São João'/Respeita Véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só". E no encerramento: "Tijuca a luz do arauto anuncia/Na carruagem da folia, hoje tem coroação". Nota 9,8
Beija-Flor - "Meu São Luís do Maranhão/Poema encantado de amor"
Laíla tem moral pra fazer fusão de sambas. Cinco já deram certo desde que chegou a Nilópolis. Mas esse não me enche os olhos.
Mas não é ruim.
O ótimo refrão central se destaca. "Na casa Nagô a luz de Xangô Axé/Mina Jêje um ritual de fé". Bem Beija-Flor, não? A variação melódica na segunda parte, encerra o samba com estilo e dá um tom de descontração que a escola precisa. "No rádio o reggae do bom/Marrom é o tom da canção/Na terra da encantaria a arte do gênio João".
Nota 9.6
Mangueira - "Minha cultura é arte popular/Nasceu em 'Fundo de Quintal'
Como falei antes não gosto de três intérpretes. Com mais os convidados, a faixa da Mangueira no cd ficou confusa e deixa o samba pra baixo na primeira passada. Li em algum lugar que é o "We are the world" do carnaval.
O samba é bom.
A referência ao "Palácio do Samba" na primeira parte nada tem a ver com o enredo. Na segunda parte o samba cresce "Sim, vi o bloco passando/O nobre rezando e o povo a cantar". A ousada exaltação no trecho "Agonizar não é morrer/Mangueira fez o meu sonho acontecer... /Hei hei hei!" eleva o fim da obra. As referências citadas nos dois últimos versos, tornam esses meus favoritos: "Por todo Universo minha voz ecoou/Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou".
Nota 9.5
São Clemente - "Será que é sonho meu?/'Sucesso aqui vou eu'"
Vou contra a maioria. Gosto desse samba! Pensem bem, a escola está depois de muito tempo dois anos seguidos no Grupo Especial, completa 50 anos tentando se manter na elite e ainda abre a segunda feira de carnaval. O samba é pra cima como deve ser. O refrão é ótimo: "Tem bububu no bobobó/Sem sassarico é o 'ó'/Bumbum de fora, pernas pro ar/Bravo! A São Clemente vai passar". Quando a Mocidade ia abrir o desfile em 2009 todos elogiaram o pula pula do coração disparando.
Nota 9.4
Imperatriz Leopoldinense - "Quem tem fé vai a pé... Vai, sim/Abrir caminhos na Lavagem do Bonfim"
Também indo contra a maioria, não acho este samba no nível que nos acostumamos a escutar em Ramos nos últimos anos. Os refrões são fracos. Ele melhora poeticamente na segunda parte no ótimo trecho: "A brisa a embalar/Histórias que falam de amor/Memórias sob o lume do luar/O doce perfume da flor".
Nota 9,3
Renascer de Jacarepaguá - "Do alto do morro o Redentor abraça o gênio/Que hoje repinta essa cidade"
Merecia ser mais pra cima já que irá abrir o carnaval estreando no Grupo Especial, mas é um bom samba. Pesado e bem escrito como é comum nas composições de Claudio Russo, que também levou em seu berço, Nilópolis. A primeira parte passa batida. Na segunda, o encerramento é ótimo em sua melodia: "Há tantos meninos assim/Querendo um sonho,/Na liberdade das cores sem fim".
Nota 9.2
União da Ilha - "Canta, meu Rio, em verso e prosa/Com a cidade ainda mais maravilhosa"
Foi confiante demais na fusão bem sucedida de 2010. Não foi igual. Forçaram a barra. Tem passagens ótimas como o refrão central que vai roubar a cena. "Vou botar molho inglês na feijoada/Misturar chá com cachaça".
Nota 9.1
Grande Rio - "Sou brasileiro mandei a tristeza embora/Eu 'tô' sentindo que chegou a nossa hora"
Não duvido do carnavalesco Cahê Rodrigues. Não duvido da interpretação, na avenida, de Wantuir. Mas deixou a desejar. Concordo com a corrente que considera um enredo de auto-ajuda. Ainda acho super favorita e não me surpreenderia que a composição desse certo na avenida.
Nota 9.0
Aquele Abraço
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